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Complacente
com a Ditadura
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Um novo movimento sindicalista surgiu entre os metalúrgicos de São Paulo
no final da década de 70, durante uma greve.
Os militares tentaram dominar o sindicato, e prenderam Lula
– o líder sindical daquela categoria – com base na Legislação de Segurança
Nacional. O escritório central da Globo permitiu que uma equipe de repórteres
fizesse um documentário sobre os tumultos e os novos sindicatos.
Quando o trabalho terminou não houve nem a preocupação de
submetê-lo à censura. Era um ótimo documentário, muito forte. E é claro
que nunca foi sequer apresentado. Foi censurado no nível da chefia de
jornalismo. Foi um momento em que a intervenção do governo foi desnecessária...
Lula (líder sindical na época):
“Achavam que nós não deveríamos falar para a Globo. A Globo
só mentia a respeito da greve. Ela não dava as informações corretas, não
dava o número de participantes correto, não dava as nossas deliberações
corretas, não dava o número total de pessoas paralisadas, ela só informava
sobre interesses patronais. Por exemplo: um dia a Globo entrevista o Lula
falando em nome dos trabalhadores, e o Mário Garnero, falando em nome
dos empresários. No dia da entrevista só aparece o Mário Garnero. Não
aparece o Lula.”
Armando Nogueira (chefe de Jornalismo
da Globo 1967/1989):
“A recomendação que a gente tinha, a instrução que a gente
tinha da parte da ditadura, era de fazer uma cobertura soft, sem som ambiente,
ou seja, sem trilha sonora e sem que se pudesse ouvir os líderes sindicais,
só se podia ouvir os líderes patronais.”
1ª
Tentativa de Manipulação Política
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Em 1982, Leonel Brizola, importante líder da esquerda antes
do golpe militar, voltou do exílio para se candidatar a governador do
Rio de Janeiro, concorrendo com um candidato da ditadura militar,
O anúncio do resultado oficial das eleições veio aos poucos,
e as totalizações eram constantemente adiadas. O jornal e as estações
de rádio e TV de Roberto Marinho haviam previsto que Brizola iria perder.
Poucos no Rio de Janeiro acreditavam nisso e houve hostilidade contra
as equipes da Globo nas ruas.
Os conspiradores haviam alterado os programas oficiais dos
computadores que projetavam o resultado da eleição, para que tudo indicasse
a derrota de Brizola.
O plano incluía o roubo de urnas de regiões favoráveis a
Brizola para garantir a vitória do candidato militar. Tinham a certeza
de que a TV Globo condicionaria a população a aceitar o resultado.
A conspiração foi descoberta a tempo, e Brizola foi eleito.
Luiz Carlos Cabral (produtor de telejornalismo
da Globo em 1982):
“A TV Globo, já antes das eleições, estava lendo de uma maneira
distorcida os resultados das pesquisas do IBOPE.”
“Depois da eleição houve, como é notório, uma tentativa de
fraudar os resultados pelos membros remanescentes dos sistemas de informação,
da ditadura, do que havia de mais cruel no regime militar.”
Armando Nogueira:
“Apenas nós cometemos um erro, porque, por medida de economia,
a Rede Globo apoiou sua cobertura de números no sistema de computadores
de O Globo.”
Com o governo
civil no horizonte, um amplo movimento se alastrou por todo o país, exigindo
que o próximo presidente fosse eleito pelo povo, através de eleições diretas.
A princípio a TV Globo ignorou o movimento, mas na medida
em que havia meio milhão de pessoas nas ruas de São Paulo ela tinha que
dizer algo, mesmo que tendencioso.
“Um dia de festa em São Paulo. A cidade comemora seus 430
anos...” Enquanto a Globo continuava a promover esta visão bastante excêntrica
e distorcida das manifestações populares, imagens de cinegrafistas amadores
mostravam mais de um milhão de pessoas pelo Brasil exigindo eleições diretas.
No final, a Globo foi
obrigada a cobrir a manifestação.
Na festa de aniversário dos 70 anos do apresentador Chacrinha,
em 1987, um jovem e desconhecido político dava pela primeira vez o ar
de sua graça. O governador Collor, de Alagoas – um dos mais pobres estados
do nordeste brasileiro – começou a aparecer freqüentemente na Globo. Collor
e Lula foram para o segundo turno. Dois debates foram transmitidos para
todo o país. Lula claramente venceu o primeiro. Três dias antes da votação
houve um segundo debate. No dia seguinte o “Jornal Nacional” editou e
transmitiu um resumo de seis minutos, que foi assistido por 64% da audiência.
A edição foi especialmente planejada para deter Lula e eleger Collor Não
há duvida de que Lula perdeu o segundo debate. Estava alterado e passando
por uma campanha dura e cruel, cheia de denúncias pessoais.
No resumo Collor foi mostrado como poderoso. Colocaram no
ar todas as suas melhores falas, e também lhe deram um minuto e dez segundos
a mais que Lula na edição.
Depois do resumo o “Jornal Nacional” apresentou os resultados
de uma pesquisa telefônica sobre o debate, pesquisa esta realizada pelo
mesmo instituto de pesquisa responsável pela imagem de Collor. As perguntas
eram vagas. Collor venceu Lula em todos os quesitos. Não foi perguntado
em quem as pessoas entrevistadas votariam.
Com todas estas manipulações, Alexandre Garcia termina o JN dizendo:”...
mantivemos um canal aberto entra a TV e seus eleitores, para que melhor
se exerça a democracia...” A intervenção de Roberto Marinho pode não ter
sido decisiva, mas foi significativa. Collor acabou sendo uma péssima
escolha. Havia críticas crescentes à terrível corrupção de seu governo,
às quais a Globo, pelo menos no início, fez questão de ignorar.
Mas no outono de 1992 até a Globo teve
que deserdar seu presidente, que foi submetido a processo de Impeachment
e forçado a renunciar.
Vianey Pinheiro (Produtor de Jornalismo
da Globo São Paulo 87/89):
p.s.: demitido após protestar publicamente sobre o resumo
do JN:
“O cerne da questão é o seguinte: entre a edição do Jornal
Hoje, da hora do almoço, e a edição do Jornal Nacional, o resumo do debate
foi alterado pelo Alberico Souza Cruz e pelo Ronald de Carvalho. Na essência,
não houve aqueles critérios básicos que nortearam a edição da manhã: tempo
igual para ambos os candidatos: a questão da pergunta da réplica e da
tréplica. Ficou uma coisa totalmente desbalanceada, o que eu chamo de
peça publicitária e não um resumo do debate."
Armando Nogueira:
p.s.: aposentado após protestar em particular à Roberto Marinho
“Eu, quando fui ao dono da empresa, Roberto Marinho, protestar
contra a exibição do compacto – que foi posto no ar à minha revelia –
disse a ele: Doutor Roberto, eu não vi esse compacto, pois se tivesse
visto teria impedido que ele fosse ao ar, e se não pudesse Ter impedido,
eu viria ao senhor para dizer o que vou dizer agora. A Rede Globo foi
infeliz. Fez uma edição burra, burra! E não precisava ser burra.”
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